O ONAS-Covid19 completa quatro semanas de atividades e gostaríamos de fazer um balanço. O projeto nasceu sem pretensões maiores a partir de uma provocação para reagir ao contexto da pandemia da Covid-19. No dia 17.03 a UFRN anunciou a suspensão das atividades presenciais por tempo indeterminado e recomendou que a comunidade acadêmica buscasse o isolamento e distanciamento social, sobretudo nos grupos de risco. Diante disso, as atividades do nosso grupo de pesquisadores passou a seguir as orientações. Mas, assim como muitos profissionais que passaram a trabalhar em home office, foi difícil encontrar concentração para continuar normalmente as atividades de trabalho que vinham sendo feitas antes da pandemia e das medidas de isolamento social. Foi o que pensamos: uma vez que estamos todos com a cabeça focada no assunto da pandemia, como podemos contribuir com a área de conhecimento que atuamos?
A área de demografia e estudos populacionais cobre um leque amplo de temas. É um campo de estudos essencialmente interdisciplinar e tem como objeto central de estudo as relações entre os componentes demográficos (natalidade, mortalidade e mobilidade) e, via de regra, não pode deixar de considerar os aspectos sociais, econômicos, políticos, ambientais, etc. No contexto da pandemia da Covid-19, não poderíamos, portanto, deixar de refletir sobre o assunto. Mas como faríamos? Percebendo a quantidade de informações falsas, distorcidas e sem bases científicas que vemos circulando pelas redes sociais nos dias de hoje, decidimos escrever textos de análise demográfica com evidências empíricas que pudessem ajudar a esclarecer sobre alguns dos temas relacionados ao contexto da pandemia que vivemos. Decidimos, com isso, investir num formato de produção cientifica que conta pouco na nossa carreira científica individual (predominantemente artigos e revistas científicas), mas por outro lado, pudesse atingir um público mais amplo através de textos curtos e informativos.
E assim chegamos aos 40 dias de quarentena desde o dia 17.03. Criamos uma sub-página no site do Programa de Pós-Graduação em Demografia da UFRN para hospedar o Observatório do Nordeste para Análise Sociodemográfica da Covid-19. Quase diariamente publicamos um texto de análise sociodemográfica que guarda relações com o contexto da pandemia da Covid-19. Foram 35 publicações em 40 dias tratando de temas que vão desde as medidas de isolamento social até as características demográficas dos domicílios com idosos e crianças. Enfim, temas que de uma forma ou de outra tangenciam o debate sobre as ações de combate à Covid-19 e aspectos demográficos. Nessas quatro semanas recebemos em nosso site uma média semanal de 2,5 mil visualizações. Parece pouco, mas é quase a metade das visualizações obtidas na nossa página no ano de 2019 todo.
No acumulado dessas quatro semanas, o monitoramento das tendências de isolamento social foi a publicação mais acessada, com cerca de 900 visualizações. Juntamente com as análises sobre a subnotificação dos casos de Covid-19, a situação do Ceará, o descumprimento do distanciamento social e a infraestrutura no interior do Nordeste, nosso “top-5” acumulou mais de 2,7 mil visualizações desde o início do ONAS-Covid19. Todos os estudos tem como recorte territorial prioritário a região Nordeste e, sempre que possível, o Rio Grande do Norte. Afinal, faz parte das nossas missões enquanto grupo de pesquisa científico de uma universidade pública priorizar os estudos que possam se reverter em conhecimento para a região onde atuamos e que também possa servir, sempre que possível, para balizar as ações politicas. Consideramos que estamos conseguindo atingir parte dessa nossa tarefa e um dos indicadores é a boa repercussão nos meios de comunicação da região. O nosso levantamento conseguiu registrar pelo menos 25 reportagens, divulgações e entrevistas na imprensa local.
Associado ao esforço de produzir as análises sociodemográficas, estamos buscando ampliar a nossa capilaridade através das redes e mídias sociais. Já contávamos com o Facebook para divulgações das nossas atividades, mas mais recentemente adicionamos também uma conta oficial do Programa de Pós-Graduação em Demografia da UFRN no Twitter, no Instagram, no LinkedIn e no Youtube. Ainda estamos começando e o conteúdo maior ainda é pelo Facebook, mas cada rede tem suas particularidades e estamos buscando mante-las sempre atualizadas para que informação com evidências científicas chegue cada vez mais às redes sociais. Falando em redes, também já contamos com colaborações científicas atuando em conjunto em redes de pesquisa. De modo solidário, a ciência brasileira busca dar respostas aos desafios da pandemia da Covid-19 e nos orgulhamos de fazer parte dessas redes que é predominantemente desenvolvida em instituições de ensino e pesquisa públicas.
Duvidar da ciência é permitido e saudável, mas só é possível fazer isso com mais ciência.
A despeito dos limitados recursos, a ciência brasileira se desenvolve de maneira permanente, coerente e sólida. Não por acaso, no contexto da pandemia da Covid-19 a pesquisa científica, que muitas vezes passa esquecida no dia-a-dia da população, ganhou centralidade. Há quem duvide dos resultados da pesquisa científica, mas isso é bom. Fazer ciência é questionar sempre. Não se faz ciência sem o confronto de abordagens, perspectivas e teorias. É parte de um complexo social mais amplo, mas segue uma disciplina, rotinas, métodos e procedimentos. Duvidar da ciência é permitido e saudável, mas só é possível fazer isso com mais ciência. Sem isso, é só palpite.
Editorial | 26.04.2020 | Ricardo Ojima | Coordenador do ONAS-Covid19 | Programa de Pós-Graduação em Demografia | Universidade Federal do Rio Grande do Norte | 40 dias de distanciamento e os números do ONAS-Covid19
Confira essa e outras análises demográficas também no ONAS-Covid19 [Observatório do Nordeste para Análise Sociodemográfica da Covid-19] https://demografiaufrn.net/onas-covid19
A direção do Centro de Ciências Exatas e da Terra se sente bastante grata por tamanha contribuição que o ONAS-COVID 19 tem trazido para a sociedade. Reconhecemos os esforços que os professores/pesquisadores têm realizado durante o isolamento que sabemos têm adicionado muito mais trabalho na vida das pessoas de um modo geral. Enfim, parabenizamos o grupo pela potencial contribuição que tem proporcionado à ciência e a preocupação com a nossa querida Região Nordeste. Obrigada a todos e todas pela sua dedicação.
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Parabéns pela iniciativa! As matérias e ações desenvolvidas pela ONAS Covid-19 e pelo PPGDEM-UFRN são de importância significativa para, com base em dados científicos, discutir questões pertinentes ao atual momento histórico que vivenciamos.
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