Novo coronavírus e condições de esgotamento sanitário no Nordeste

Recentes estudos apontaram que o novo coronavírus foi encontrado nas fezes de pacientes mesmo quando o mesmo não podia mais ser identificado nas amostras do trato respiratório. Segundo os estudos, mesmo nas amostras de estações de tratamento de esgoto foi possível detectar a presença do vírus. Ainda é cedo para afirmar que seja possível ser infectado quando se tem contato com água contaminada pela carga viral existente no esgoto não tratado e, tampouco se sabe como seria o devido tratamento para que não haja riscos. De toda forma, o contato humano com esgoto não tratado é um risco para outras formas de doenças infecciosas e, em situações de maior vulnerabilidade social, elevam a condição para condições graves de doenças diarreicas que podem levar ao óbito, principalmente em crianças. Sendo assim, conviver com condições de esgotamento sanitário inadequadas já seria uma situação de risco.

Esgoto sanitário

Considerando o potencial de contaminação pela Covid-19, torna-se então mais importante considerar as condições de vulnerabilidade ao novo coronavírus de uma grande parcela da população. São particularmente graves as situações onde os domicílios que se utilizam de formas de esgotamento sanitário precárias, como é o caso das valas comuns, direto em rios, lagos e mar ou outras formas diversas que não sejam o esgoto ligado à rede geral ou mesmo as fossas sépticas. Na região Nordeste são mais de 880 mil domicílios que se se valem dessas formas precárias de esgotamento, sendo o caso do Maranhão o mais grave com 12% dos domicílios nessa situação. No Rio Grande do Norte, são cerca de 15 mil domicílios em condições precárias. Podem representar uma parcela proporcionalmente pequena dos domicílios, mas ainda assim, em termos absolutos essa situação afeta uma grande quantidade de pessoas.

Esgoto mapa
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 2018

As pessoas que vivem em domicílios com condições precárias de esgotamento são quase 3 milhões em todo o Nordeste. Associe-se a isso o fato de que, só nas Regiões Metropolitanas no Nordeste, são quase 3,5 milhões de pessoas que não dispõem mesmo tendo rede geral de abastecimento de água, essa água possui intermitência e não se apresenta de modo regular durante o mês. Sendo que 20% dos domicílios nas Regiões Metropolitanas Nordestinas nem possuem acesso à rede geral de abastecimento de água. Ou seja, uma combinação muito desfavorável para os casos onde não há esgotamento sanitário adequado e ao mesmo tempo sem acesso ao sistema geral de rede de água.

Por fim, além da situação imediata dessa parcela mais vulnerável da população, caso haja efetivo potencial de contaminação pelo novo coronavirus pelo contato com esgoto não tratado, cabe destacar que essas pessoas sendo contaminadas colocam em risco todo a sociedade. Trata-se, portanto, de uma preocupação de saúde pública. Que não se restringem apenas àqueles que se expõem diretamente ao risco de contaminação, mas do conjunto da sociedade. Se resolver os problemas de saneamento básico já eram medidas prioritárias antes desse momento de pandemia, agora se torna mais importante ainda buscar resoluções imediatas e permanentes para essa situação.

Ricardo Ojima – Demógrafo, professor do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais (DDCA) e do Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Jordana Cristina de Jesus – Demógrafa, professora do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais (DDCA) e do Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Confira essa e outras análises demográficas também no ONAS-Covid19 [Observatório do Nordeste para Análise Sociodemográfica da Covid-19] https://demografiaufrn.net/onas-covid19

 

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