Desde que os primeiros casos da Covid-19 no Brasil foram confirmados, diversas foram as medidas tomadas para tentar contar o crescimento do número de pessoas atingidas. O novo coronavírus é muito contagioso e consegue se espalhar rapidamente em uma região devido principalmente aos casos em que os sintomas são leves e até mesmo inexistentes. Um estudo realizado pela Escola de Londres de Higiene e Medicina Tropical (London School of Hygiene and Tropical Medicine) estima que apenas um em cada dez casos são oficialmente registrados. Além disso, cerca de dois terços das infecções são decorrentes de pessoas assintomáticas. Entre os assintomáticos e casos leves estão as crianças e adolescentes.

Uma das medidas adotadas para conter o avanço da Covid-19 foi a suspensão das atividades escolares. Ainda que crianças e adolescente aparentemente não desenvolvam formas graves da doença, o fato de se descolocarem diariamente para escolas e se agruparem em salas de aula durante longos períodos de tempo potencializa o contágio, já que elas podem se tornar veículos de disseminação da doença quando retornam para suas casas. Considerando apenas os domicílios onde residem crianças de 6 a 14 anos de idade, onde há uma maior cobertura de acesso ao ensino público ou privado, temos 31% dos domicílios do Nordeste e 32,5% no Rio Grande do Norte. No RN são quase 360 mil domicílios que estariam mais expostos à contaminação no caso das salas de aula se tornarem locais de contágio em massa. E é particularmente mais relevante o fato de que em 17,5% desses domicílios com crianças em idade escolar também residam idosos no RN, o principal grupo de risco.
Especial atenção deve ser dada aos casos em que as condições de habitação nos domicílios são mais precárias. Cerca de 12% dos domicílios com crianças em idade escolar possuem apenas um cômodo servindo permanentemente como dormitório, o que deixa evidente a impossibilidade física de isolamento dos moradores. São 43 mil domicílios no RN e cerca de 2,5 milhões de domicílios no Nordeste com essa característica. No RN, as aulas estão paralisadas desde o dia 18 de março. Naquele momento, ainda tínhamos apenas um caso confirmado no Estado. Hoje (30/03) já temos 77 casos confirmados. Se as estimativas apontadas acima servem para o RN assim como para o Brasil, teríamos potencialmente cerca de 770 casos não registrados oficialmente. Ou seja, casos leves e assintomáticos sendo as crianças potencialmente a sua maioria. Retomar as aulas agora seria muito perigoso, pois nesse momento o novo coronavírus se encontra em contágio comunitário e não mais entre indivíduos que viajaram para áreas contaminadas.
Jordana Cristina de Jesus – Demógrafa, professora do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais (DDCA) e do Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Ricardo Ojima – Demógrafo, professor do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais (DDCA) e do Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Confira essa e outras análises demográficas também no ONAS-Covid19 [Observatório do Nordeste para Análise Sociodemográfica da Covid-19] https://demografiaufrn.net/onas-covid19
Atitude bastante sensata. Os países que não adotaram essa prática apresentaram um crescimento vertiginoso no número de infectados. Além disso, conteúdos escolares podem ser retomados depois. Sem contar que, nesse momento e nas atuais circunstâncias, é uma boa oportunidade para discutir com os nossos alunos temas como solidariedade, ética, cidadania, etc. A escola não deve servir apenas como reprodutora de conteúdos.
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