Por um Censo a serviço da população brasileira

Os pesquisadores do Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” da Unicamp e do Programa de Pós-Graduação em Demografia da UFRN (PPGDEM/UFRN), assim como professores do Departamento de Demografia (IFCH/Unicamp) e do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da UFRN (DDCA), vêm a público manifestar profunda preocupação com a realização do Censo 2020.

Nesse sentido, vêm se colocar como um canal de diálogo entre o governo, os técnicos do IBGE, a Academia e os usuários do Censo. Tendo em vista a possível redução do orçamento para a realização do Censo 2020, é dever e responsabilidade de todos participar nesse processo de discussão a respeito de cortes de perguntas do questionário, a fim de evitar enormes prejuízos para o desenvolvimento de políticas públicas no país.

Atualmente o censo é muito mais do que apenas demográfico, contendo informações fundamentais para a gestão do território, planejamento, implementação e avaliação de políticas sociais. Subsidia estudos em diversas áreas do conhecimento, seja na Sociologia, Economia, Urbanismo, Epidemiologia, Geografia ou Demografia. É de responsabilidade de todos.

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Em um país marcado por grandes desigualdades sociais, não realizar o censo de forma integral contribuirá para aumentar a disparidade nas condições da gestão nos municípios brasileiros, impactando negativamente a qualidade de vida da população.

O censo é um instrumento fundamental de comparação das condições de vida entre municípios brasileiros auxiliando na definição de prioridades de investimento em desenvolvimento. Conhecer o território, a distribuição espacial de recursos e de carências da população é pré-condição para a adequada governança em um país continental como o nosso.

Mudanças em censos nunca são decisões meramente técnicas. O censo cumpre funções caras à administração pública e corre o risco de ser influenciado por interesses de governo, mais do que pelo interesse da população brasileira de se mirar no espelho e se autoconhecer. 

Certos países aboliram a realização de censos quando já tinham sistemas de informação consolidados, confiáveis e muito mais abrangentes, o que não é o caso do Brasil. Mesmo considerando as fontes de dados alternativas existentes no país, a não captura de informações existentes em outras pesquisas resultaria na impossibilidade de cruzamento desses quesitos (excluídos do questionário) com as mais diversas informações sociodemográficas captadas pelo censo, elemento fundamental para a elaboração de políticas públicas, especialmente na escala dos municípios. Buscamos a melhoria da qualidade das informações do censo, mas não por cortes no questionário, e sim por um treinamento mais específico dos recenseadores e por campanhas de conscientização da população para que os recebam, pois a revisita ao domicílio é um dos custos mais significativos do censo.

Não é possível reduzir a abrangência dos temas abordados pelo censo de 2020 sem séria avaliação sobre o que é proposto como fontes de informação substitutas. Uma alteração profunda na estrutura do Censo deve ser realizada ouvindo as vozes dissonantes e por meio do fortalecimento do caminho do diálogo.

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